top of page

RESSACA

Conjugo os segundos do dia
Perdendo os detalhes neurais das ruas
E a distração corre em olho nu.
Componho  silêncio da ação;
Posso ver dedos mutilados
Esquecendo o propósito de palavras frias.
Lembranças elevam-se a chumbo
Enquanto a chuva castiga telhados
Liquidificando o vento de tapeçarias.
Quando paro em calçadas
Posso ouvir de bocas oriundas:
-Um homem é tudo aquilo que ele conseguir absorver.
In iterum risit madcap.

Talbert Igor

Conferência

Era a maneira com que eles riam das coisas
Que me incomodava tanto
De como compravam roupas novas
Para fazer conferência nas festas
E puxavam suas mulheres pelo braço
Como se fossem um adereço social
- “A vida é um palco”, dizia o poeta
E disso eles sabiam muito bem.

Bruno Santana Cruz

Vidraça

Depois que o vento invadiu pela vidraça aberta,
Com um pouco de fumaça e tormentas diárias,
Das pronúncias sem nenhum brio

Depois dos dois, do jogo frio.
Acusações sem provas
...
Olhos lhe fitam uma ameaça
Mas disso não passa...

Meus sonhos emanam planos, sem receio de serem sonhos,
Não cessam, nenhuma parte de mim se desvencilha do meu querer.
Rogo em meio a teus seios

Depois das duas, dos jogos sombrios
... Das perseguições às sombras no quarto.
Lhe fito uma ameaça, mas não passa de mais uma bravata.

Engulo todas palavras que sufocam,
Que imploram para sair,
As deixo no calabouço...
As deixo se revirarem em um túmulo obscuro...

Thalles Nathan

Abra os Zóio, Matuto

Rafael Vilanova

Interpretação: Confraria Giramundo

Aleivosias sertanejas

Arrastando a quentura abençoada pelo mormaço do sertão
Que queima como angústia de chuva que nunca vem
UM Sertanejo em brasas pede que pare sua aflição
Resmunga ladainhas                     Prostrado em pura inanição
Rezas anêmicas          /                  Terços       surdos
Calangos e teiús
Carcarás e urubus
Vaqueiros sem tripas                    Alimentando-se do barro
Caatinga sem chuvisco e              Sem gado
No cheiro do gibão e da               Carniça
Severino sente o bucho rasgar-se pela peixeira da injustiça
Seu filho não acorda não respira \ PREGUIÇA ?
As beatas em procissão gritaram REZE UMA MISSA  
O SILÊNCIO procurou água na moringa mas só bebeu o gemido dos mandacarus
E todos só ouviram uma calmaria ventaneira amortalhada pelo canto das sanfonas medonhas

João Henrique Ferreira

João Henrique é o nosso PoetAmigo da semana. Com um livro lançado e outro no forno, JH é o ícone-mor da poesia marginal de Cipó. Clique na imagem para visitar seu perfil no Facebook.

Hot River Blues

Uma composição de Rafael Vilanova e Bruno Santana, Hot River Blues é uma exaltação ao Rio Quente, riacho que corta as imediações da comunidade quilombola da Várzea Grande, na zona rural de Cipó. Clique no ícone e se divirta!

Última Postagem:

17/05/2013 - 00:40

Coletivo Maria Louca

bottom of page